domingo, 2 de junho de 2019

Sapatos para Dançar - mitos, verdades e dicas


Muitas pessoas me perguntam sobre sobre sapatos para dançar. Onde compro, que sapato devo usar, precisa ter salto alto, essas e outras dúvidas são comuns para quem está começando a se aventurar na prática de Dança de Salão.

Existem milhões de danças no mundo todo. Mais conhecidas ou menos conhecidas, todas elas tem algo em comum: precisam do corpo, em tempo real, sua pausa, seu movimento, para existir como expressão. Lembre-se disso! Pois, por mais interessante, bonito, elegante, engraçado, inusitado, diferente, que seja o adereço que você escolher para dançar, o que realmente vai importar é o que está dentro dele, isto é, você. O modo como você se sente e se expressa quando dança é muito mais importante do que o que está em volta do seu corpo. O adereço é um "algo a mais", que você agrega à sua dança.


Muitas danças, inclusive, não utilizam nenhum calçado, apenas o pé descalço. Outras, utilizam calçados especiais, que não podemos usar para andar normalmente pela rua, apenas durante a dança, como é o caso das sapatilhas, protetores plantares, meias, etc. Outras ainda, utilizam adereços bem expressivos, cênicos, bastante chamativos, que podem ser vistos de longe, como as sandálias plataforma das passistas de escola de samba e calçados que demonstram habilidades especiais como as sapatilhas de ponta de balé clássico e os tamancos usados pelas gueixas em danças orientais.


Os calçados já possuem em nossa cultura uma aura de fetiche, sapatinhos vermelhos que dançam sozinhos, sapatinhos brilhantes que te trazem de volta para casa, sapatos de salto agulha são relacionados à sensualidade, e assim por diante. Então não é de se espantar que haja um certo fetiche envolvendo os calçados na dança.

Mas isso não quer dizer que você precise de um calçado específico para dançar. A saga da busca pelo calçado de dança pode acabar se tornando uma desculpa para não dançar ou uma preocupação desnecessária. As dicas que darei à seguir são para ajudar, não para atrapalhar.

O calçado é uma ferramenta pela qual também nos expressamos, ele complementa o significado de tudo o que estamos comunicando quando dançamos. Por isso, é comum quem gosta de dançar, querer escolher cuidadosamente o sapato que irá utilizar.
Há a questão estética, que se relaciona com a personalidade da pessoa, mas também há a questão técnica, da escolha de uma ferramenta que nos auxilie na tarefa de dançar.


O calçado de um dançarino é como o pincel de um pintor. Você não precisa de um pincel específico para pintar, você pode pintar com qualquer pincel, aliás, você nem precisa de um pincel, você pode pintar com os seus dedos, sua mão, uma esponja, um graveto, com lápis de cor, canetinha... Já deu pra entender, né? rsrsrs Mas uma ferramenta adequada ajuda. Há pincéis específicos para cada técnica de pintura.

Isso tem a ver com o que falei antes, que, mais importante que o adereço, é o corpo que se expressa. Você pode me dar o pincel mais "tchan tchan tchun tchun" do mundo, ainda assim o que eu pintar vai ser o que está dentro das minhas possibilidades. Se fosse possível pedir para o Van Gogh pintar com um cotonete velho, seja o que fosse que ele pintasse, seria muito mais interessante, com certeza, porque é o artista que conta, a expressão de cada ser.

Agora, só porque eu não pinto como o Van Gogh, nunca mais vou pintar na minha vida? Não, né... Vou pintar sim, se eu quiser, do jeito que eu quiser, com o material que eu quiser e ser feliz. rsrsrs

Um pintor profissional com certeza buscaria as ferramentas que melhor servissem para o seu trabalho. Com um pincel melhor, vamos nos cansar menos quando pintarmos, evitamos machucar o pulso, por exemplo, conseguimos diferentes efeitos com cada tipo de pincel, e o traço da tinta sairá mais bonito.

Explicado tudo isso, as dicas que vou dar a seguir são para ajudar a melhorar a sua performance na dança, um sapato adequado vai ajudar a tornar mais fácil a execução de alguns movimentos, deixar mais bonita a linha do seu pé e da sua perna, te dar mais estabilidade e equilíbrio, vai ser mais confortável e evitar que você se machuque.



Um sapato para dança de salão precisa ter 3 coisas (só três, olha que fácil!):
- Precisa ser flexível
- Precisa prender no tornozelo
- Precisa deslizar

Anotou? Pois é, simples assim, tendo essas 3 coisas, o sapato pode ser usado para dançar, não importando se você comprou numa loja de artigos para dança, num brechó ou numa loja qualquer de calçados.

Agora os porquês:

O calçado precisa ser flexível para permitir a articulação dos ossos pé, principalmente dos dedos e metatarso. Então NÃO são indicados sapatos com solado de madeira, anabela, plataforma, meia pata, etc., que sejam duros. Um pé que consegue pisar melhor no chão e ter flexibilidade, consegue amortecer melhor a pisada, tem mais agilidade, reflexo e equilíbrio, evitando que você se machuque e mostrando mais a linda linha do seu pé.


É importante que o sapato prenda no tornozelo, senão, a cada passo que você der o calcanhar do sapato sai, fica lá no chão, enquanto o calcanhar do pé sobe. Nada elegante, mas também atrapalha a agilidade e pode causar um pequeno acidente, ocasionando quedas, torsões, etc. Então NÃO é bom usar chinelos, tamancos e outros calçados que não sejam presos ao tornozelo.




O sapato deve ter uma sola deslizante, porque muitos movimentos em dança de salão necessitam que os pés deslizem pelo chão. Por esse motivo NÃO são indicados calçados com sola de borracha e antiderrapante, como tênis de corrida, galochas, coturnos e outros. Além de atrapalhar e exigir maior esforço para deslizar, girar, fazer um twist ou pivot, por exemplo, um calçado que "gruda" no chão pode lesionar gravemente os seus joelhos.


"Ah! Mas se eu ficar andando por aí com sapatos lisos, vou escorregar e cair." Realmente. Esse é um dos motivos pelos quais as pessoas que frequentam bailes levam seus sapatos de dança numa sacola ou bolsa e trocam apenas quando já estão no ambiente de dança, isso evita as quedas pelo caminho e também faz com que seus calçados durem mais tempo.

Se você procura um calçado mais versátil, que sirva tanto para dançar quanto para andar na rua, recomendo os tênis para dança, eles são especialmente pensados para esse fim.

Mas claro que tudo isso depende de como é o piso onde você dança, que estilo de dança você pratica, qual a intensidade e a periodicidade com que você dança, entre outras coisas. Da última vez que fui à Buenos Aires, vi pessoas dançando tango de chinelo e all star. Já vi professores famosos de dança utilizando calçados que fugiam a essas regras. Então, ficam as dicas e você usa o seu bom senso para usar como quiser.

"Mas e o salto?"
Primeira coisa: o salto aparece nos 3 itens que o sapato precisa ter para dançar? Não. Então não precisa.
Quem vai definir a altura e a largura do salto do sapato que você vai usar vai ser você mesmo. O que você gostar mais, se sentir mais seguro, confortável, ou o você que achar mais bonito. Um salto inadequado, que te machuca, tira o seu equilíbrio, mesmo que seja lindo e te deixe mais alto, não vai ser funcional.

Se você deseja muito utilizar um salto com o qual não tem o costume de andar, treine, treine muito, use o sapato dentro de casa, utilize ele nas suas aulas e pratique com ele bastante antes de se arriscar com ele num baile (ou apresentação, etc.), assim você evita se machucar e machucar outras pessoas (tropeçando e caindo, por exemplo).

Um mito muito comum é acreditar que o salto alto confere boa postura. Galera, desculpa o balde de água fria, mas, por mais que ele possa ajudar, não é o pincel que faz a cor do Van Gogh ser linda. A boa postura está em você, no seu corpo, no modo como você dança, não no calçado. Seria muito bacana ter calçados mágicos, que você vestisse e ficasse com uma postura linda e saísse dançando como o Fred Astaire, mas isso ainda não existe (quem sabe um dia?). O único jeito de ter boa postura, de dançar com desenvoltura, é estudando, praticando.


"Ah! Mas eu preciso dançar com uma postura linda pra ser feliz?" Não. As pessoas já dançavam, e já existiam bailes, muito antes de existirem escolas de dança. As pessoas aprendiam a dançar vendo outras pessoas dançando, mais intuitivamente ou informalmente. Uma amiga que sabia, ensinava pra outra, por exemplo. Podemos ver isso em filmes de época. Mas aprimoramento nunca fez mal pra ninguém, viu? rsrsrs Ainda bem que o conhecimento é infinito e a gente sempre pode aprender mais, ía ser muito chato se existisse só isso que a gente já sabe, não é?

Em breve farei uma postagem sobre alguns lugares bacanas para comprar sapatos. Se tiverem mais dúvidas, basta deixar um comentário ou mandar um e-mail.

Boa sorte na escolha dos seus calçados!

terça-feira, 5 de junho de 2018

PROMOÇÃO!!!


Promoção imperdível para o mês de JUNHO de 2018!

Homenageando xs namoradxs.

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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A idade certa para se dançar - segunda parte!


Eu nunca imaginei, mas a primeira postagem que fiz, em 2008, continua sendo a mais popular do blog. "A idade certa para se dançar" continua recebendo comentários com dúvidas dos leitores até hoje! Isso me fez compreender que esse é um assunto pouco falado e muito buscado pelas pessoas, por esse motivo, resolvi fazer essa nova postagem, falando sobre o mesmo tema. (Caso tenha interesse em ler a primeira postagem na íntegra, é só clicar aqui.)

Mas como esse tema dá pano pra manga, poderia fazer muitas postagens sobre ele, nesta aqui escolhi falar sobre um assunto que é um dos motivos que leva as pessoas a associarem a juventude com a prática de dança: o virtuosismo.

Nós temos alguns "tabus" em nossa cultura, alguns assuntos delicados, complexos, que algumas pessoas não gostam de discutir sobre, porque, às vezes, pode esbarrar em temas doloridos, mas a verdade é que é bem importante a gente refletir sobre o porquê de agirmos e pensarmos de determinada maneira. Buscar saber mais e tirar dúvidas sobre assuntos que não conhecemos muito, nos ajuda a tomar decisões e pensar se queremos mesmo manter o modo como pensamos e fazemos as coisas ou se gostaríamos de mudá-los.

Há alguns preconceitos relacionados à Dança que nos atrapalham de pensar seriamente sobre ela, podendo beirar o desrespeito, o medo e a rejeição.

Me recordo de um vídeo, disponibilizado na internet algum tempo atrás, de quando foi aprovada a regulamentação do profissional da dança. Entre gracinhas e piadas jocosas, as pessoas envolvidas, respeitados políticos, caçoavam do homem que apresentou o tema à votação, e ele próprio, respondia às piadas com outras.
Não digo que haja problema em se levar o trabalho com leveza, mas será que haveriam tantas piadinhas se fosse a regulamentação de outra profissão? (a de advogado ou médico, por exemplo)
Porque algumas profissões são levadas mais a sério que outras?
Porque achamos engraçado que alguém seja bailarino? Ou melhor, que um senhor de terno e gravata possa apreciar dança?
Porque quando você pensa na palavra DANÇA, as primeiras idéias que vem a sua mente, e que são as definidoras do que é dança para você, vão na contramão do que é uma pessoa comum.

Esse ano, minha mãe, que já completou 68 anos, virou para mim e disse: "Puxa vida! 2017! Nunca imaginei que viveria para ver esse ano! Tão longe parecia!" Pois bem, nem eu imaginei, mãe, rsrsrs mas cá estamos nós, 2017, tem 3G, Iphone, Whatsapp, as pessoas carregam minitelas consigo para todos os lugares, podem falar (e ver a imagem) com alguém que está do outro lado do mundo instantaneamente, como no desenho dos jetsons que eu via quando era pequena. Mas, apesar de todos esses avanços, continuamos com ideais bem antiquados sobre dança.

Se quando eu falei dança, você pensou nos clipes da Beyoncé, parabéns, você é bem mais atualizado, mas um enorme número de pessoas continua pensando na moça esbelta, envolta em tule branco e nas pontas dos pés dos balés de 1800 (séc XIX).


Porque estou falando tudo isso: é urgente que repensemos nossa noção de dança, porque sendo a Beyoncé, a Giselle ou outro ícone, eles não representam as pessoas, pessoas comuns, alguém que você encontraria no ônibus ou na fila da farmácia, e sim seres fantásticos, Divas, Ninfas, Personagens saídos de um filme de hollywood, de um conto de fadas ou de uma apresentação circense. 


É importante entender que meu ponto de vista sobre a dança não é o de atividade física, não é o de entretenimento, é o de expressão, comunicação artística. Um artista não precisa ser virtuoso, precisa entender da sua linguagem e causar sensações e reflexões nas pessoas.

Quando pensamos num bailarino que é demasiado elástico, salta com muita altura, gira muitas voltas, faz movimentos com muita agilidade, estamos mesmo pensando num artista ou num virtuosista?

Alongamento é algo importante para um bailarino? Sim. Aliás, para a saúde de qualquer pessoa. (Aproveite e faça um teste rápido e veja como anda sua flexibilidade: fique em pé, você consegue tocar o chão com as pontas dos dedos sem flexionar os joelhos?)

É necessário ser a "mulher borracha" para ser uma bailarina? A resposta é NÃO.

Da mesma forma que o alongamento, a agilidade e a força podem ser ferramentas expressivas, mas não são condição única e exclusiva para se expressar através da dança. Então, se não são apenas as características físicas que definem a possibilidade e a qualidade de um artista da dança, não há porque restringir a faixa etária de profissionalização da área. Em outras palavras, não existe idade certa para se dançar.

Se você não gosta de dança, não tem problema nenhum, a amizade é a mesma! rsrsrs Mas se gosta, quer apreciar, quer experimentar fazer, não se reprima por causa das idéias de outras pessoas. Não tente agradar os outros, deixe que façam piadinhas, que te censurem, a vida passa muito rápido para deixar passar a chance de vivenciar coisas novas. Se você encontrar um local ou um professor que não permita que você participe das aulas, ou até permita, mas que o ambiente não é respeitoso e a acolhedor a você, procure outro local/professor. Pode até ser que eles não estejam preparados para te receber, sempre existirá quem está preparado ou quem está disposto a explorar novas possibilidades junto com você.

Algo que sempre falo para meus alunos, e que todos compreendem imediatamente, é a comparação com a Poesia. Quando pensamos em um grande poeta, imaginamos alguém que sabe muitas palavras? Uma pessoa que decorou todo o dicionário? Uma pessoa que usa palavras longas e difíceis? Não, né?
Imaginamos alguém que saiba usar as palavras para nos tocar, para nos chocar, para nos emocionar, para nos fazer refletir. Isso é o que um artista faz, isso é o que os artistas da Dança fazem.

Precisamos aproximar a idéia de se fazer dança das pessoas comuns, para que sua prática seja vista como algo que faz parte do cotidiano e não algo guardado para poucos escolhidos pelo destino. Nem todo mundo quer ser artista profissional, mas todo mundo merece ter contato com a Arte, se a pessoa não conhece esse fazer, nunca vai pensar em seguir esse fazer profissionalmente.


Se você quer ser um artista, quer ser um bailarino, interpréte, diretor, coreógrafo, ... bora se jogar no estudos, treine, pratique, busque conhecer outras danças, conhecer as histórias das danças, conhecer outros artistas e melhorar cada vez mais você como pessoa e seu potencial como artista. Independentemente da sua idade!

Esforço será necessário, não acredite na mentira de que é necessário nascer com um talento para se dançar, talento é 99,9% esforço, eu estudei e me esforcei bastante para chegar onde estou e vira e mexe eu escuto alguém dizer (ou insinuar) que eu tenho muita sorte.

As pessoas costumam respeitar a profissão de médico, pois a pessoa estuda muito, lê muitos livros e estuda muitos anos para conseguir se tornar um profissional. Pois bem, a formação de harpista (músico ou musicista que toca o instrumento musical harpa profissionalmente) é de 12 anos e a formação de um bailarino clássico leva de 8 à 10 anos, por exemplo (e mesmo assim não recebem o mesmo respeito por parte das pessoas). Por favor, não confunda a minha afirmação de que toda e qualquer pessoa pode dançar e deve ter acesso à dança, com facilidade ou falta de esforço pessoal.

Qualquer coisa que aprendemos na vida demanda esforço, é que às vezes, quando o fazemos com prazer, não percebemos. Talvez, a primeira vez que você vá cozinhar feijão, não vá ficar apetitoso, rsrsrs talvez queime, fique muito salgado ou sem tempero, com a pratica, a repetição, o aprendizado e dicas de outras pessoas, você irá se aperfeiçoando na técnica. Imagina se alguém experimentasse esse primeiro feijão e dissesse que você nunca iria saber cozinhar? Muitos cozinheiros escutaram e isso e não se deixaram abalar. Estou dizendo isso porque é muito comum sentirmos dificuldade no começo das aulas de dança, mas você não deve desistir, persista um pouco mais e veja se é um obstáculo que você consegue superar. Algumas pessoas chegam para fazer aulas de dança comigo e acham que eu faço mágica! rsrsrs Acham que eu vou transformá-las no Fred Astaire em algumas horas. Não funciona bem assim, o corpo não tem a velocidade da internet, ele precisa de tempo para internalizar alguns conceitos. Mas a prática ajuda muito!

Muitas moças entre 12 e 18 anos vieram me perguntar se estavam"velhas" para começar a dançar, e isso me entristece muito, não só pelo fato de que eu mesma comecei a estudar mais seriamente dança com 15 anos (e muitas pessoas me disseram naquela época que eu estava muito velha [e muito gorda] e que nunca iria me profissionalizar), mas pelo fato de que, se uma adolescente se acha velha, uma senhora de 60 anos é o quê? Um fardo? Que desrespeito! Estamos ignorando o quanto cada ser humano ainda pode contribuir para o mundo.

Grandes bailarinos da história da dança iniciaram suas jornadas adultos ou idosos, posso fazer uma postagem sobre alguns, caso tenham curiosidade.

Vocês me perguntam se eu acho que vocês estão velhos, novos, se são aptos ou não, mas vocês são plenamente capazes de saber de seus potenciais. A pergunta talvez seja outra, você realmente quer se profissionalizar em dança? Quer se esforças para isso e talvez ter de abrir mão de outras coisas? Quer colher o amargo e o doce dessa profissão? Porque toda profissão o tem. Ou está iludido por uma idéia fantasiosa de que é uma profissão glamourosa? Basta dar uma chance, experimentar. Sem medo de fracassar, de errar, de se machucar, de desagradar os outros. Ouça sua intuição.


Se você nunca participou de aulas de dança, o faça só pelo prazer de experimentar e veja quais são suas sensações diante dessa experiência, quem sabe daí você descubra qual é o seu caminho.

Duvide de verdades absolutas, tudo tem porque de ser, a gente pode não saber, mas tem, e é bem legal ir atrás de descobrir os porquês das coisas, pois a razão pra um pode não ser para o outro.

Porque homem não pode dançar? Porque dança é coisa de mulherzinha? Porque de mulher é ruim? Porque determinadas danças ficam taxadas pela faixa etária (porque idosos não podem dançar street dance e jovens não podem dançar cha cha cha, por exemplo)? Porque a Dança Clássica, que é de um País do outro lado do oceano, é mais conhecida e difundida nas escolas de dança que as danças daqui do Brasil? Porque quando compramos um livro de "História da Dança" não tem as histórias de todas as danças do mundo? Porque dançar não é aceito como uma profissão respeitável? (Se eu ganhasse uma moeda por cada vez que eu ouvi "mas você trabalha com o quê?", "você só dá aula?", "mas você vive de dança?") Porque as mídias (TV, rádio, jornal, sites, etc.) só divulgam alguns tipos de dança? Porque não achamos que a Dança é uma área do conhecimento humano que demanda estudo e trabalho intelectual? (Veja pelas piadinhas de que bailarinos são burros).

Graças a humanidade, temos aí a internet que nos ajuda nas pesquisas, nem tudo você conseguirá saber pela internet, mas conseguirá achar quem possa ajudá-lo, como você me achou aqui nesse blog.


Termino essa postagem com a imagem acima, um trecho de uma das montagens de Pina Bausch, só com senhores de terno e gravata, participando de uma obra contemporânea de dança.

Vivemos em uma era cheia de tecnologia, de re-pensar velhos padrões de comportamento, de liberdade de pensamento, de fácil acesso à informação, mas muitas vezes a dança continua funcionando como uma ferramenta de reprodução de velhos padrões e preconceitos. 
Deixe-mos a dança continuar a servir a um de seus propósitos mais importantes: o de revolucionar o mundo, revolucionando um corpo de cada vez.

BAILE NOVO!


A primeira edição do BAILE NOVO, projeto de bailes de dança de salão com música ao vivo no Centro Cultural São Paulo, foi um sucesso!

Entraremos de férias agora em em julho, mas no segundo semestre voltaremos com força total e baile todos os meses!

Já anote na agenda as próximas datas: 11/8, 8/9, 13/10, 10/11 e 8/12.

O CCSP fica na Rua Vergueiro, 1000, em São Paulo - SP. Os bailes são sempre numa sexta-feira, das 18h30 às 20h30 e a entrada é franca.










Festival Tango Brasil

Acontecerá, no fim do próximo mês, a competição que classificará o casal que irá representar o Brasil no maior campeonato de tango do mundo: o Festival de Tango de Buenos Aires.
Haverão aulas, bailes e as apresentações das etapas classificatórias da competição.
Que tiver interesse em participar, informações sobre a programação, artistas, datas, locais e valores no site.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A "Dama" na Dança de Salão.


Bom... respirem fundo, porque agora vou falar sobre um assunto polêmico! rsrsrs

Cada profissional ou amador da Dança de Salão tem uma opinião sobre como deve ser a relação entre as duas pessoas que dançam. Após muitos anos de estudo de referências, de história e de observação do ambiente social e profissional da dança, comecei a questionar  algumas "verdades absolutas" que ouvia em bailes e aulas.

A Dança é uma linguagem artística, uma manifestação cultural humana, portanto ela não existe separadamente de todos os códigos formais ou informais dos grupos onde ela é praticada. O que eu quero dizer com isso é que toda dança carrega os modos de ser da sociedade da qual ela faz parte.

Se formos pensar no ambiente onde as danças de salão nasceram, lá no seu "vovô", as danças de côrte européias, quantas regras sobre corpo e movimento, quantas regras sobre comportamento que não usamos mais, mas chegam carregadas pela dança até nós?

Quantos preconceitos e códigos de conduta ultrapassados continuam sendo reproduzidos através das danças, porque se repete muito e se reflete muito pouco o sobre próprio fazer?

Eu mesma, em minhas aulas, utilizo termos com "a dama", "o cavalheiro", "o moço", "a moça", quando poderia utilizar "a pessoa que estiver propondo o movimento", "o condutor", "o conduzido", "o parceiro ou a parceira". Esses termos antigos estão arraigados no meu modo de dar aula, pois eu os ouvi milhões de vezes durante a minha própria formação e eles não são inocentes, vem carregados de sentidos.

Quando afirmamos que "o homem conduz e a mulher segue", "o homem manda e a mulher obedece", quais valores estamos transmitindo inconscientemente? De que mulheres não são capazes de se bastarem sozinhas, não tem condições de liderar e ao mesmo tempo, que recai tanta responsabilidade sobre os homens que à eles não é permitido soltar-se prazerosamente durante a dança.
"O homem é a moldura e a mulher é a pintura", tantas afirmações definidoras... Porque o homem também não pode ser pintura?

Indo mais além, se repararmos nos figurinos masculino e feminino, principalmente no Tango, no Bolero, na Valsa, que são considerados ritmos mais conservadores, os homens estão sempre de roupas escuras, sóbrias, quando dançam contra a um fundo escuro então, mal se vê um rostinho flutuante, enquanto às mulheres são permitidas as cores, plumas, brilhos e babados, mesmo quando vestidas de preto, há rendas, arrastão, fendas, etc.



Nem estou entrando no mérito da plurissexualidade, pois é injusto que casais de mesmo sexo não possam dançar entre si, mas a necessidade de que se tenha uma pessoa do sexo feminino e uma pessoa do sexo masculino para dançar é uma prática excludente. Fato, nunca haverá a mesma quantidade de homens e mulheres no mundo. Eu, como professora, diversas vezes preciso conduzir meus alunos, homens e mulheres, para lhes possibilitar uma melhor compreensão de determinado movimento, mas em alguns bailes já fui censurada, por querer dançar com meus alunos como quem conduz, por ser mulher.

Hoje em dia há mais abertura para se debater o assunto e em muitos bailes e práticas as pessoas se alternam na condução e dançam com quem quiserem, independente do sexo, mas é preciso continuar a discussão, pois ainda há muito preconceito e desconhecimento que excluem e afastam as pessoas das Danças de Salão.

Sempre oriento meus alunos e alunas no sentido de que nós aprendemos à ouvir e falar através da dança. Eu digo algo e espero a resposta, eu ouço a pergunta antes para poder responder e posso fazer uma nova pergunta se eu quiser. Assim, como numa conversa, se houver realmente parceria e paciência, as duas pessoas podem falar e serem ouvidas.

Ao contrário do que se pensa, uma postura totalmente passiva por conta da pessoa que é conduzida não melhora a performance artística, pelo contrário, é o compartilhamento da responsabilidade que dá leveza e permite que ambos possam se expressar livremente durante a dança e darem idéias durante um improviso.

Em nossa sociedade atual, não é mais concebível essa noção de "homem supridor de todas necessidades" e "mulher frágil e indefesa", porque então continuarmos dançando assim?

Compartilho com vocês o texto de Sheila Santos, sobre como uma maior "pró-atividade" por parte da pessoa que acompanha a condução pode intensificar a qualidade da dança.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tango Perfume de Mulher


Sabe... vou contar um segredo para vocês, eu tinha uma bronca danada com o filme "Perfume Mulher". É, esse mesmo que você está pensando, com o Al Pacino.

Eu achava um saco quando alguém, nos shows e apresentações de tango, pedia: "toca Perfume de Mulher!".
Affe!!! Seria o correspondente pra "toca Raul!", ou seja, não é nem engraçado...

Primeiro, pensava eu, esse tango nem existe! O tango, que ficou tão famoso por causa do filme, na verdade chama Por Una Cabeza.


Segundo, que, ok, esse tango é um clássico, mas se vamos tocar um clássico, porque não La Cumparsita ou El Choclo, que, na minha humilde opinião, são os tangos mais famosos do mundo?
Sabe aquele desenho animado que você viu na infância, com um rato, um gato ou um coelho dançando tango? Então, com certeza era uma dessas duas músicas e não Por Una Cabeza...

A verdade é que os nomes talvez sejam difíceis de lembrar e ninguém quer passar vergonha gritando uma palavra em espanhol errada no meio de um show, né? hehehe

Acontece com muitas músicas conhecidas, se tocarmos um trecho todos reconhecerão, mas não sabemos seu nome, seu compositor, seus intérpretes. Por um lado, isso é um pouco triste, é bacana pesquisar, procurar saber, mas também não se culpe por não ser uma enciclopédia ambulante de música, pra isso existe acervo, arquivo e a internet. As pessoas não precisam reter um milhão de informações, elas elaboraram durante anos sistemas de armazenamento de informação para que elas possam ser apenas criativas e felizes.

Bom, mas meu preconceito com o filme só passou quando fui convidada a debater esse filme em um dos locais onde trabalho, o CEDPES. Vi o filme diversas vezes, fiz pesquisas e anotações e descobri muitas coisas interessantes.

É um filme realmente emocionante, não é à toa que marca as pessoas (se você não assistiu ainda, corre lá!), tocam diversos tangos durante o filme, uns cinco ou seis, mas todo mundo só lembra do da cena da dança. Até na cena do carro, que é outra cena que as pessoas costumam se lembrar, toca um tango. A trilha sonora geral do filme é bem bonita.

Como referência técnica coreográfica, a cena da dança não ajuda de maneira nenhuma, mas, se você assistir o filme, vai entender que é óbvio! Não é um casal profissional dançando, é um senhor idoso cego dançando com uma moça que nunca dançou na vida, se fosse uma coreografia excelente tecnicamente seria uma incoerência do diretor. Não é uma dança para se aprender a dançar, não é uma dança para se espelhar tecnicamente, é uma dança que trata de questões subjetivas e é por isso que marca.

Acredito que seja uma das melhores interpretações do Al Pacino.

Quando debati o filme, fiz duas postagens aqui no blog, uma divulgando a exibição e outra com materiais complementares à discussão que fizemos após o filme.

Você pode ver essas postagens aqui:




Essa postagem já está ficando mais longa do que eu tinha imaginado inicialmente, mas é que esse desabafo todo é fundamental para entender porque o real motivo dessa postagem é tão importante!

Em uma das minhas "pesquisanças" pela internet, estava atrás de partituras de tango quando descubro QUE EXISTE UM TANGO CHAMADO PERFUME DE MULHER!!!!  (Toma essa!)
Sim! E é beeem diferente do Por Una cabeza.
Agora o cuidado com a gaffe é dobrado ein pessoal! Vão pedir um tango no show e os músicos vão tocar outro! Hahaha!

Em primeira mão, ouça o tão pedido tango Perfume de Mulher:




Perfume de Mujer é um tango de 1927, a música de é Juan José Guichandut e a letra é de Armando Tagini.

Por Una Cabeza é um tango de 1935, a música é de Carlos Gardel e a letra é de Alfredo Le Pera.


Scent of a Women é um filme de 1992, a versão de Por Una Cabeza do filme é do grupo The Tango Project, que a fez especialmente para a trilha.

Não sei vocês, mas eu adoro saber sobre a história das coisas. :)

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Vídeo: dicas de condução para Dança de Salão


Faz mais de um ano desde a última vez que postei no blog, então tomei vergonha na cara e resolvi compartilhar com vocês esse vídeo, bem bacana, que dá algumas dicas para quem quer aprimorar sua condução na dança de salão.

O vídeo é bem curtinho, divertido e leve de assistir, você não vai se arrepender de separar esses minutinhos para ver o que o Professor Leonardo Bilia, de Campinas, diz sobre o assunto.

De um outro jeito, com outras palavras, ele explica algumas coisas que sempre tento dizer aos alunos. Menos pode ser mais! Economize energia e não tenha um tônus tão alto que possa te machucar e machucar a pessoa que está dançando com você.

Dançar à dois é um convite do início ao fim: vamos juntos?